04 agosto 2014

o melhor nome para um banco novo é "Novo Banco"

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Como cliente do ex-BES, acompanhei a história com a natural preocupação de quem tem os seus patacos guardados numa instituição à beira de uma morte anunciada. Fico mais descansado por saber que, à partida, o meu parco património está salvaguardado e faz parte daquilo que, carinhosamente, foi apelidado “BES-Bom”, numa nova instituição cujo nome não poderia ser mais explícito. 

Não sendo a minha praia, acho por bem deixar o enquadramento económico e discussão financeira para quem de direito, e concentrar-me apenas a apreciar a genialidade do nome dado à parte boa do BES. “Novo Banco” é, porventura, um forte candidato a um case study de comunicação empresarial, onde se consiga provar que chamar os bois pelos nomes é sempre a melhor solução. Impressiona-me a rapidez com que se conseguiu chegar ao nome. Se soubesse, há uns anos, que este era o caminho, tinha poupado muito cabelo e investido menos horas a tentar chegar a nomes poético-pastoris que conseguissem satisfazer as exigências insistentes dos meus clientes para reinventar a roda. Uma marca nova, centrada em produtos alimentares ultracongelados que se podem preparar em casa? “Produtos Ultracongelados Para Preparar Em Casa”! Um champô exclusivo para homens? “Champô Exclusivo Para Homens”!

Compreendo que o tempo tenha sido pouco (é sempre!) e que a imaginação não fosse o activo mais abundante por aquelas bandas, mas chamar a um banco novo “Novo Banco” é esticar um pouco a corda. Ou, por outro lado, provar a toda uma classe profissional que criar um nome para uma marca/instituição afinal é simples, rápido e barato - o que eu me ria se se viesse a descobrir que, afinal, isto não foi fruto da pressão e sim o trabalho de profissionais devidamente credenciados. 

A ideia até pode virar moda e começa a facilitar a vida aos criativos deste país (e, quem sabe, do mundo, com excepção de quem deu o mesmo nome a um banco cabo-verdiano), que deixam de perder tantas horas de sono para criar um nome único e sonante, que vá de encontro aos (supostos) valores de uma marca. Por outro lado, até os consumidores podem vir a tirar partido disto, especialmente se as nomenclaturas forem uma fiel representação daquilo que se pode esperar do outro lado, sem margem para dúvidas, enganos ou expectativas desfeitas. “Pão Rústico” é pão rústico, sem metáforas evocativas das férias passadas na aldeia com a avó demente; “Cerveja que Sabe a Mijo” é mais que óbvia, e apenas uma escolha para quem não tenha outras opções, dinheiro ou as papilas gustativas desfeitas por anos de abuso de álcool; “Novo Banco” é apenas isso, um banco que acabou de ser criado e que, dizem os entendidos, começa do zero sem a herança nefasta das más decisões do passado. 

Imagino que, neste momento, a prioridade seja limpar a casa, garantir que o “Novo Banco” comece a sua história com a ardósia em branco (adeus, D. Inércia?) e só depois se comecem a pensar nos pequenos pormenores que tornarão a nova marca numa instituição financeira de respeito. Como, por exemplo, escrever os guiões para os operadores de telemarketing:

- Olá, daqui fala do “Novo Banco”.
- Qual?
- O “Novo Banco”.
- Sim, que novo banco?

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